Dona do Vento


Já te esqueceste de quem eras?
Por quantos pedaços te vendeste?
Por quantos te compraste?
Quem és tu?

Quando te olho nos olhos,
Parece que tudo mudou de sítio.
Como a nossa casa de infância,
Que passado uns anos,
Depois de reconstruções,
Já não é a mesma,
Porque tudo mudou,
Mesmo que o edifício nada mais seja que genuíno.

Genuíno…
Sim, eras genuíno.
E agora?
Por quantas esquinas te escondes,
De noite cerrada?
Quantas vezes, agora,
Finges ser aquele menino que olha a lua,
E imagina como será viver lá,
Longe de tudo?

Quantas lágrimas te correm pelo rosto?
Quantos sorrisos te fogem dos lábios?
Quantas palavras te morrem na garganta?
Quantos suspiros suspendem a tua respiração?

Como a carne que não é tua,
Pendurada em ossos que não são os teus,
Perdidos na gordura que já não possuis,
Na antiga dormência do doce que era o teu coração…
Coração?

Oh por quem te tomo?
Coração…

Há muito que perdi o meu,
Lá pela mesma altura que alguém,
Alguém tão inocente como a chuva,
Partiu o teu.

Curioso, não?

Nada mais me és.
Fechas-te a porta que abriste.
Mas ainda finges,
Finges!
Que abriste uma janela.

Labirinto impenetrável,
Isso sim.

Que lábia a tua, meu rico jovem!
Por quem te tomas, tu agora?

Já dizia o outro,
Quem ninguém pode perder o que
Nunca em seu poder possuiu.

Não te perdi.
Tão pouco te achei.
Só te lamentei.
Luto.
De luto, sim.

Das tuas mãos,
Dos teus olhos,
Da terna caricia
Que os teus lábios me davam,
Ao os poisares na minha testa…
Disso, já nada resta.

Estás mais feliz assim?
Sem mim?

Devias estar.
Porque não estarias?

Frisaste bem a pouca importância que possuo,
Não ao bateres a porta, não!
Mas ao fingires que abriste a janela.

Pensando bem, para que quererias a janela?
Já tens todo o ar que precisas.
Bem dentro de ti,
Que é o que te importa.

Eu? Sou alguém sim.
Não deixo de o ser,
Por já não to ser.

Sou alguém para mim,
Para os demais,
Mesmo que não to seja.

Mas lamento.
Porquê?

Porque cada pedaço teu,
Cada gesto teu,
Cada sorriso teu,
Cada lágrima tua,
Cada beijo teu,
Cada osso,
Cada…tudo.
Um dia,
Um dia…
Vão sentir a minha falta.
Assim como eu sinto a deles.

Nesse dia,
Que abrires de novo a porta,
Eu estarei lá, sim.
Á tua espera.

De braços abertos para ti,
Para possuir o que me queiras dar.
E não me vou sentir tão mal como tu,
Porque serás tu que terás perdido tempo.

Porque eu estarei á tua espera,
Mas não vou perder nada.
Porque eu…nunca possui nada.

Mas tu…
Tu terás perdido tempo.
Comigo.
Com a minha amizade.
Que não poderás ter de novo.
Não por eu não te querer dar, não!
Nunca te faria isso.

Mas porque… cada pedaço teu,
Vendeu o seu tempo a outras pessoas,
Que nunca to poderão devolver de novo.

Porque a amizade é uma via de dois caminhos…
…e um deles é um beco sem saída.

2012

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