Império de mentiras


Tento calar os gritos na minha cabeça,
Fingir que nada se passou,
Mas eu lembro-me de tudo.

A dor é real,
As lembranças ardem-me,
Como se de um inferno se tratasse.

Vivo por cima,
No alto de uma nuvem de pó,
Que disfarça a escuridão do meu sorriso.
Vejo-me numa teia de mentiras,
Com uma aranha invisível,
Que me arranca cada pedaço do meu ser.
E eu tento fugir,
E eu tento gritar,
Mas tudo faz com que eu seja desmembrada mais depressa.

Queria começar de novo,
Queria arranjar uma maneira,
Queria esquecer,
Queria…

A solidão não me mata,
A solidão não me fortalece,
Apenas deixa entrar a luz,
Que sempre precisei dentro de mim.

E sim, fico sozinha.
Mas sim, sinto-me bem.

Como sujeitar alguém á minha imundice?
Como pedir para que compreendam o que,
Eu própria,
Penso não haver compreensão possível?

Tu,
Na calada da noite,
De estrelas sumidas,
De frio ardente.

Tu,
Que me envelheces-te em segundos,
Que tomaste de mim,
A pouca inocência que tinha.

Tu,
Apenas tu,
Que nada viste,
E nada fizeste.

Eu,
Que nada senti,
Que nada disse.

E mesmo assim,
As lembranças são como espinhos,
Cravados em mim,
Pela mais bela rosa do jardim.

Pela pureza do ser,
Pela simplicidade da forma,
Pela beleza…
Sim, pela beleza dos olhos de uma criança!

E o vermelho derramado,
Como vinho desperdiçado,
Não aconteceu.

Eu.
Tu.
Nada.
Nem ninguém.

E em ferros sou presa,
Ferros que não vejo,
Mas que a uma hora ou outra,
Partilham comigo o gelo do seu toque,
A frieza da sua textura.

Ferros que não vejo,
Mas que me tocam,
Em cada centímetro do meu corpo.
E me calam.
Sim, que me calam!

Mas não me fazem esquecer.

Um dia,
Eu vou…


2011

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